"Contos de Amores Vãos" é a coletânea de vinte narrativas que versam sobre a incompletude dos relacionamentos e a frustração que isso acarreta. Cada um dos textos utiliza uma técnica ou uma forma diferenciada dos demais, o que torna a obra ousada do ponto de vista formal. A obra foi contemplada via Lic Federal, por meio da Lei Rouanet, e tem o patrocínio das empresas Randon e Marcopolo.

CAIXA DE PESQUISA

O SEU CONTO VÃO

Este espaço é seu! Envie seu conto de amor vão para nosso contato, e ele será publicado!


********** 


O conto “O Véu” é um fanfic concebido por A.M Narciso e inspirado no livro “Redes Sensuais” de L.Midas, o qual colaborou com a adaptação e revisão final. Redes Sensuais está disponível gratuitamente no seguinte link: http://www.ge.tt/78mDJLP
Maiores informações na fan-page: HTTP://www.facebook.com/RedesSensuais

O Véu
de A.M.Narciso & L.Midas

'Quando o elemento de insatisfação adentra em si o natural é buscar preenchê-lo, seja o tempo, o sentimento ou o contato. Os interesses que se sobrepõem acima de todas as circunstâncias, são verdadeiros véus’. Miriam fecha o livro “O Véu de Vênus” não sem antes pensar se o que estaria para acontecer não a transformava em uma das personagens desta que era sua obra predileta. Levanta-se de sua aconchegante poltrona e faz um check-list mental. Constata que ainda tem tempo e abre o laptop. Spam, email da sua irmã reclamando da vida. Abre o Facebook. Conforme noticiou na grande rede social, estava na Europa participando de um Congresso de Artes. “Sim, será uma breve temporada que promete muitas aventuras.” A mais importante delas, minuciosamente planejada, um encontro com uma paquera do Facebook. Um homem, brasileiro, super sensual que a conquistou no primeiro “inbox”. Ele devia saber que ela estava pelas terras medievais (afinal, estava “anunciado” no Facebook para quem quisesse ver) mas a Europa é grande. Ele, da última vez, perguntou se poderiam se encontrar, mas ela explicou que a agenda seria muito movimentada com diversas exposições e palestras. E que, como curadora de arte, não poderia faltar: Afinal, haviam pago a passagem e hotel de primeira classe exatamente pela sua presença.O que ele não sabia é que Miriam adorava o elemento-surpresa: no dia anterior havia feito o check-in no aclamado hotel londrino, visto de perto o Big Ben, passeado no London Eye. Caminhadas que lhe inspiraram lembranças. Como se dantes já conhecesse aquela paisagem de forma tão nítida. Como se já tivesse esperado antes por um amante desconhecido. Era tudo fácil. Afinal, há muito sabia, através dos emails trocados quando o Facebook não dava vazão aos sentimentos devido ao fuso horário, a assinatura com contatos profissionais: Carlos E. Souza, “Chief Information Officer, British Telecom”, telefone +44 32 4567689. Horas antes, teclara este número e do outro lado uma voz masculina adentrara por seus ouvidos, e de imediato sentiu um arrepio na espinha e na barriga como o primeiro beijo de adolescente. Procurou ser curta, ele queria muitas explicações, mas se desculpou dizendo que não podia falar no momento, ela sabia que ele abriria o espaço na agenda custe o que custasse. Horário, data e local acertados na verdade ela confere o relógio: faltam cinco minutos. Fecha o laptop. O virtual é um mundo paralelo, uma realidade paralela, uma inexistência real, uma simulação, um simulacro talvez, um sonho... É a conta de conferir os últimos detalhes e o telefone do quarto toca avisando da chegada do visitante. Carlos se depara com a porta do quarto, toca a campainha e ouve uma voz feminina pedindo que entrasse, trancasse a porta e se acomodasse no divã da sala do apart. Adentra e depara-se com luzes apagadas, velas acesas por todos os lados. O coração bate acelerado. Ainda tenta se acostumar com a penumbra do quarto.Vislumbra em cima do mezanino o livro “O véu de Vênus” de Anita Iset que foi “a causa” do contato inicial no Facebook. Não consegue visualizar a presença de sua conquista virtual quando vê ao longe uma sombra saindo de um canto da suíte com um hobby vermelho transparente. Sua visão parece embaçada pelas fumaças das velas e pelo choque da iluminação forte do corredor em contraste com a penumbra da suíte. Sabe que há muito desejava estar neste lugar, havia meses que sonhava com este momento. Viu o contorno de curvas de uma mulher de salto alto, usando um corpete e cinta-liga vermelhos, pele branca e cabelos ruivos e reluzentes. A boca vermelha complementa o conjunto que reluz sob o treme-treme das luzes das velas. Ela é direta e pede-o que não se mova um dedo sequer e fique em silêncio apenas observando-a de pé ao lado do mezanino...e assim ele obedece deslumbrado com a cena...novamente o sonho... conforme uma vez haviam virtualmente combinado que assim seria. “Tudo tão surpreendente, inesperado, inacreditável. Sonhos às vezes se tornam realidade”. Custa a acreditar na sua sorte, mas miragem ou não, sente algo dentro de suas calças latejando violentamente, como querendo saltar para fora da cueca que agora lhe apertava chegando a provocar uma dor deliciosa. Ela vai se aproximando e cumprimenta-o com o olhar de entendimento mútuo que diz “essa era a nossa fantasia”. Ela percorre seu rosto e sua respiração por todo o rosto dele e deixa-o ainda mais louco com aquela troca de calor sem poder sequer se mexer e ou tocá-la, afinal, ela é uma desconhecida, ambos são na realidade desconhecidos um para o outro. Ela o mantém dominado pelo olhar, e percorre a mão por cima da camisa branca e começa a desabotoá-la. Descortina um peito branco e macio. Ele sentiu aquele primeiro toque tão desejado. Em um reflexo, tenta mexer a mão e é repreendido de imediato. “Carlos, lembra o que combinamos?”diz ela. A voz é sedosa e sensual, mas não deixa dúvidas que aquilo era uma ordem. As pernas nuas dela deslizam entre as suas, a mão dela desliza cada vez mais embaixo e vai de encontro com seu mastro já latejante e rubro. Sem a menor sombra de pudor e sem dizer uma palavra ela apenas sorri um sorriso sedutor que o deixa mais louco. A esta altura, ela desabotoa o cinto da calça e a protuberância de macho se aloja entre as pernas de ambos. A deusa de vermelho senta-se em cima do mezanino e puxa-o entrelaçando entre as suas coxas prendendo-o a si fisicamente, ambos sabem que é o sinal para a realização física das ideias virtuais que trocaram por meses a fio. Ele traz para perto de seu rosto a sua boca vermelha e quente, ela contorna suas mãos no pescoço dele e ambos se puxam reciprocamente, no beijo ardente que faz ambos entenderem que as preliminares já estavam feitas. Num movimento rápido ele desenlaça o hobby que a envolve e a olha fundo como se a conhecesse de outras vidas, de outras encarnações. Ali no mezanino eles se atracam, se enlaçam e se penetram...jogam as roupas ainda por tirar ao lado e nus transam rápidos, frenéticos e desesperadamente. Toda uma volúpia de desejo e paixão se exala dos corpos que se envolvem, durante horas, no mezanino, no divã e na cama...molhados de paixão, suores se misturam em meio ao êxtase e rastros por toda parte. Ele a penetra devagar, sentindo-a a cada palmo de seu interior, de seu calor vaginal. Como ela é quente, apertada e deliciosa. Ele geme e beija-a demasiadamente como se matasse naqueles beijos alucinados a sede da água e do sabor daquele néctar feminino exalando dentro de si. Mais uma, outra e mais outra estocada e ele novamente expelindo o desejo guardado. De todas as posições, a inicial do encontro ainda reinava soberana, pois ela havia sido capaz de imobilizá-lo só pelo poder sexual emanado dos seus olhos, da mente... de imaginar que estaria por realizar seus desejos virtuais. Os corpos, este sim, reais, agora se esfregam frêmitos de gozo, prazer e tesão. Gritos e gemidos de prazer real ecoam em seus ouvidos e líquidos jorraram entre os lençóis. Suas mãos deslizam por entre as pernas dela, descortinam seus segredos, sua púbis, seu prazer. Ela lhe olha, ainda
mais sedutora que nunca,estendendo-lhe uma taça de champanhe para molhar-lhe a garganta seca de tanto lamber, chupar, beijar. Estava suado, cansado, mas ainda desfrutaria muito daquela mulher. Tinham muito tempo ainda. No balde de gelo, vislumbrou ainda uma segunda garrafa. Entendeu a mensagem da segunda garrafa: “Não foi à toa que ela disse que adorava servir de copo...”

Miriam o vê acordar, subitamente, de um tranco. Parece atordoado. Nota-lhe o olhar, inicialmente turvo, desanuviar. Ele parece não entender porque está ali. Ou quem ela é. Nota-o lentamente recobrando os sentidos, tentando colocar juntas as lembranças que lhe chegam faltando pedaços.

“Oi”, ele diz, por fim.

“Olá”, ela retruca com um grande sorriso.

“Você tem ideia que horas são?”, ele pergunta.

“São 22:30”

“Quê? Como? Quanto tempo dormi? Nossa, o que aconteceu? Tenho uma dor de cabeça terrível”

“Querido, deve ter sido a champagne. Você bebeu quase duas garrafas.” E aponta para o balde de gelo, duas garrafas vazias comprovavam o fato. “Você não se lembra?”

“Na verdade.... hummm... preciso ir ao banheiro. Acho que estou passando mal”.

Ele levanta-se, atordoado, quase perdendo o equilíbrio. Nem sabe onde é o banheiro, mas obviamente era para o lado direito. Devia ser para lá. Corre, nu, segurando-se nas paredes. Miriam ouve a porta bater, e um barulho de vômito. “Pobrezinho,” ela pensa.

Ouve o chuveiro. Ele sai de lá, lívido. Parece um pouco recuperado. Tem uma toalha envolta na cintura. Vai ao casaco, checa o celular. Pelo visto estava cheio de mensagens. Ele parece mexer no aparelho por alguns minutos. Ela nota-o observando-a de soslaio, estudando-a. Ela finge estar concentrada na TV, mas ela também o segue com os olhos discretamente. Vê-o retirar a carteira da jaqueta, abrir, e discretamente conferir o conteúdo. Ele abre a maleta, com a desculpa de procurar um cartão ou algo semelhante, mas na verdade está observando se o laptop está lá dentro. Parece satisfeito com o exercício, porque dá meia volta e vem ao seu encontro na cama. Tem a toalha envolta na cintura, mas ela nota que por baixo está nu.

“Desculpa querida, me senti muito mal. Acho que foi o champagne. Isto nunca me aconteceu”.

“Você vomitou? Ouvi um barulho.”

“Sim, mas já estou bem melhor. Bebi água e escovei os dentes com a escova gratuita do hotel. Espero não estar com gosto ruim.”

“Só vou saber testando”, ela sorri, oferecendo a boca. Se beijam. Ela desliza a mão por entre a toalha, pegando no membro flácido.

“Querida, está tarde, perdi tanto tempo dormindo...”

A mão dela já acaricia o membro. Ela lhe cala com um beijo, enquanto trabalha com a mão. Com a outra, usa o controle remoto para desligar a TV e num ato contínuo, abaixa a cabeça e engole todo o membro. Durante a tarde, antes do sono profundo, ela mal aguentou engolir 1/3 do membro. Agora, a boca dela encostava nas suas bolas quase engolindo-as, a língua mexia de um lado para o outro. Ele gemia, gostava. Ela sorvia o membro em toda a sua extensão que continuava flácido. Sentiu que o tempo passava e o homem começou a dar sinais de impaciência...

“Querida, isso nunca me aconteceu... quer dizer, acontece sim, se bebo muito. Acho que não vou conseguir mais... e estou preocupado, porque já é tarde... não avisei em casa...”


Nitidamente enrubescido e envergonhado, ele levanta-se da cama. “Desculpa”. “Quando você vai embora mesmo?”

“Amanhã cedo”

“Ah. Que pena. Olha, eu tenho de ir...”

Ele começa a se vestir. Está envergonhado. Ainda mais ele, que se gabava de ser incansável em suas conversas pela internet. Que dizia que gozava muitas vezes seguidas. Tudo mentira... Ou seria mesmo o efeito da champagne... “Querida, quando bebo muito isso acontece... que diabos, como bebi tanto assim?”

Despedem-se com um longo beijo na porta do quarto.

“Na próxima... sem bebidas, tá”, ele diz para ela sorrindo.

“Querido... você provou que tudo que disse era verdade... antes de dormir... não se preocupe... eu adorei!!! Espero revê-lo em breve...” manda-lhe um beijo enquanto o vê sumir elevador adentro.

Fecha a porta e o sorriso se esvai. Tem de sair dali, rápido.Pelo sim, pelo não, arriscar é bobagem. Existe software que não evita, mas pode alertar o que aconteceu. Talvez ele descubra ao chegar em casa. Talvez nunca.

Recolhe as coisas, rapidamente. A esta altura Carlos já deve estar razoavelmente longe. Telefona para a recepção, pede que fechem a conta e solicitem um táxi. “Para aonde?” pergunta o recepcionista. “Enxerido” ela pensa. “Aeroporto!”

“Qual?” ele insiste.


“Ai, que merda... que cara chato”. “Stansted”

Vê-se nua no espelho. As pernas são lindas, a pele branca, sem varizes, sem rugas na face. Tem 35 anos, mas passa por menos de 30. O rosto, a boca, os olhos...todos perfeitos. Mas os seios são ainda seu maior diferencial. Obviamente siliconados são grandes e firmes. Duros. O tamanho, relativamente desproporcional ao seu corpo embora sem grandes exageros, prova que se trata de uma intervenção artificial na natureza. O único problema é que quando um homem toca aqueles dois montes voluptuosos ele entende que aquilo tudo é carne, não há cicatriz, nunca existiu mão de cirurgião, ali quem operou foi somente a mãe natureza. Ela pondera quanto tempo ainda tem em que eles continuarão a desafiar a gravidade. “Bem, já que todo mundo acha que sou siliconada, se eles caírem e eu colocar silicone ninguém nem vai saber mesmo, hahahaha” ela sorri para si mesma, e pensa que um dia se aproveitará dos avanços tecnológicos da ciência que fazem da mulher cada vez mais atemporal. “Um caso típico de profecia auto-realizadora”, ela ri para si mesma.


Vai no banheiro e abre um potinho de metal. Pega cuidadosamente uma pequena pílula branca. Abre aquele que é o seu grande mimo: um anel, com uma pedra azul que carrega no dedo médio. A pedra azul se destaca e revela um interior oco. Coloca cuidadosamente uma pílula no anel, fechando-o novamente. Cada pílula, comprada no mercado negro custa cinquenta dólares. Garantem um sono profundo de no mínimo duas horas e no máximo quatro com pouca ou nenhuma ressaca ou efeito colateral. Nada mais do que o que seria causado por duas garrafas de champagne. Sempre sente um pouco de tristeza ao jogar fora o resto da champagne da qual consumiram apenas dois cálices. Mais tristeza ainda ao abrir e imediatamente esvaziar uma garrafa inteira na privada. Ainda mais ela que adora champagne. Mas hora de beber, beber... hora de trabalhar, trabalhar....

Já está pronta. Desce, puxando uma pequena mala marrom com emblemas das letras L e V estilizados atrás de si. No ombro, uma bolsa grande. O check-out é rápido e eficiente, o táxi a espera.

“Madam, it is the airport of Stansted, right?” pergunta o motorista, apenas por cortesia.


“No, not really. Eurostar terminal” retruca de forma firme e decidida.

Com um pouco de sorte, ainda pegaria o último trem. Sempre existem lugares vagos na primeira classe. Amanhã de manhã já estaria na França, pensou, enquanto o típico táxi preto londrino deslizava nas ruas com pouco movimento. Ao seu lado, dentro da bolsa, estava o seu laptop. Quando estivesse no hotel, em Paris, faria o upload da cópia dos dados do laptop de Carlos que havia criado no seu próprio computador. Na cidade-luz não teria outro encontro até o fim da semana: poderia passear e se distrair um pouco. Rever o Louvre, subir a torre Eiffel a pé relendo os inúmeros pôsteres explicativos ao longo do percurso de centenas de degraus. O próximo amante “virtu-real” seria Bernt Kone, um Suíço figurão do mundo dos negócios estando no conselho de administração não apenas do conglomerado ABB o qual presidiu por vários anos mas também outras 4 multinacionais dos mais diversos setores. Quais segredos industriais estariam no laptop deste senhor certamente nem os próprios compradores, que pagavam fortunas por este material, saberiam em detalhes. Para Miriam, era tudo um jogo, era tudo virtual, não se envolvia. Fechou os olhos, lembrou-se da hora em que ele a penetrou profundamente, o orgasmo dela não foi virtual, foi real. “Bem, pelo menos não precisei fingir”, pensou absorta vendo a paisagem se movimentar ante aos seus belos olhos azuis. Ainda manteria contato com o Carlos pela rede social, até para saber se ele descobriu algo ou não. “Sempre é bom mantê-los por perto”, já dizia Sun Tzu mas sabia que nunca mais iria vê-lo e assoprou um beijo mental para o amante daquela tarde enquanto saía do táxi. “E adeus para você também, Londres”.



Gostou do conto?
Leia “Redes Sensuais” e inspire-se você também!
A.M. Narciso










***************************



Notas Perdidas

            Haveria milhões maneiras de dizer o que eu quero, mas eu não sei por onde começar, o que falar, nem ao menos sei se quero que saibas. Uma forte indagação paira sobre minha mente, melhor falar de passado, presente ou futuro, explicita ou implicitamente?
            Não sei se quero que tu saibas do pedaço do meu corpo que clama por ti, na verdade, eu não quero que saibas nem disso, nem que eu sinto um frio na barriga quando te aproximas, que meu coração passou por disparos, estalos e pulsos em sinfonia descompassada, desajustada num ritmo alucinante procurando a ti. Esqueça dos calafrios que corriam pela minha espinha, as minhas mãos que se tornaram central de choques nervosos, os meus olhos que entregavam meus desejos e que só sossegaram ao encontrarem os teus. Além de esquecer o que foi dito, não procures a informação que guardo a sete chaves: o choro provocado por cada ausência tua, às vezes que teu perfume corre buscando meu olfato ou os momentos onde eu fujo ao encontro das memórias denominadas ‘você’. Passe as folhas dessa história sem notar a sede dos meus lábios pelos teus, a maneira como meu corpo queima feito brasa num simples toque das tuas mãos gélidas, da mescla de desespero nascida em minha mente quando não te tenho ao meu lado, bobo, por que me causas isso? Pareces não saber que me sufoca essa urgência em te encontrar, é como se nada nesse mundo pudesse me preencher mais que teus braços.
            Por favor, não continue, eu passo, penso e peço, o que segue são infinitas declarações submersas em canções dos meus garotos de Liverpool. Quando não havia mais nenhum fio de esperança, tu trouxeste ela novamente para mim, enquanto a respiração era difícil, a loucura me rodeava, o norte parecia perdido, tu tornaste as coisas reais para mim, agora entenda que eu estou correndo por ti e estou sentindo a tua falta, pois tu me salvaste. E não há palavras suficientes para expressar o quão entusiástico é ver o rir do teu riso, fechar meus olhos e ver teus trejeitos, relembrar da entonação da tua voz, ser guiada involuntariamente para perto do teu coração. O que diz respeito ao que eu sinto não são notas de rodapé, não tem explicações plausíveis, ou uma maneira de não implicar todos os clichês possíveis. Sou uma alma fugitiva nas nuvens aguardando teus olhares de tons inconcebíveis, de cores fundidas através de uma multidão de matizes e entonações, amarelos, navais, carmins, azuis borrifados de nuvens, escuridões enevoadas, que tem o poder de atenuar todo mal que me circunda. Há tanto aqui dentro de mim, uma explosão de sentimentos jamais vista em tal cuja, emoções mistas que me levam a necessidade de te ter por perto, de capturar qualquer coisa que me faça lembrar-te, de te ter longe aqui do lado.
            Já que não paraste de ler, saiba que ao beirar o delírio despi-me das velhas ilusões, busquei novos climas, explorei cada canto dessa nova ilha mental em que habito, mas encontrei, em todo o lugar que estive um pedaço teu, todo pensamento incidiu em ti, e agora, não quero mais abandonar isso. Não quero ter outro pensamento ao abrir os olhos pela manhã álgida, ter outra conversa durante a madrugada, muito menos sonhar com outra coisa que não seja estar no calor dos teus braços, quero tua intensidade pra mim, é o tipo de proteção que necessito. Vou continuar rindo e falando sozinha, revivendo os carinhos na minha mente, pesando 200 kg de alegrias e medos, enfeitando as palavras de ternura, já enlouqueci o suficiente para fazer a minha vida parar e de repente voltar a fazer sentido. Enquanto a chuva cai lá fora, talvez tu possas não compreender que em mim, tu e mais um pouco de ti, nem o fato de eu ficar eufórica desde as 20h, sabendo que tu chegas às 23h30, assim como a raposa ficava pelo Pequeno Príncipe. Se tu me entendes e mantens a mesma reciprocidade, saibas que isso é para mim, como uma fonte no deserto, um pulsar de meu coração feito coreografias jamais idealizadas por nenhuma academia de ballet clássico, libélulas agitadas rondando meu organismo, bolas de gude chocando-se em meu cérebro, sangue correndo na contra-mão e outras emoções infindáveis que tenho aqui dentro do peito. Saibas que sensações como essa não precisam ser normais, serem únicas, serem universais, serem seja lá o que forem. Elas só precisam ser minhas, minhas por ti. E isso já basta.
Conto enviado por Raíssa Reginato
@heeey_raissa
seven-miles.blogspot.com/



***********************


ILUSÃO DE BANCO DE PRAÇA

E nós estávamos sentados lá. Numa praça. Eu podia ver os olhos que se fixavam em mim. Ah, que lugarzinho de merda fomos escolher para isso. Afinal, de que "isso" estamos falando? Ele só me chamou pra sair, espairecer. Ei, o que você acha de sairmos na quarta? Hm, quarta feira tá bom. Todos os dias me pareciam ótimos. Principalmente se fossem para sair com ele. Mas a malícia dessa história estava na cabeça dele, eu era ingênua, ingênua pra caramba. Quarta feira, estava ele lá, sentado naquele banco. Passei maquiagem, muita maquiagem, aliás, que maneira mais ridícula de tentar esconder os defeitos, não? Uma hora ou outra um cosmético acaba, e querendo ou não, maquiagem demais estraga a gente. Estraga caráter. Ele me disse que eu estava linda. E eu acreditei. Começamos a nos olhar feito idiotas. Tá e aí? E aí o que? Tascou-me u m beijo. Dois, três. Espera. Você não quer conversar, aliás, não devia ser assim? E sobre o que você quer falar? Seilá, me pede como foi o meu dia. Tá, como foi o seu dia? Foi bom. E o seu. Também, agora podemos continuar? Tá. Conversar com ele parecia - e era - impossível. De repente, surgem cerca de 10 ou 12 "brothers", gritando como se seilá, o  grêmio tivesse feito um gol na final do campeonato. Olhei incrédula para ele. Ele sorriu. Aquela manada de adolescentes me serviu de companhia para chegar ao menos em casa. E ele? Ah, ele foi mais um idiota na minha vida.
Conto enviado por Roberta Vicente