"Contos de Amores Vãos" é a coletânea de vinte narrativas que versam sobre a incompletude dos relacionamentos e a frustração que isso acarreta. Cada um dos textos utiliza uma técnica ou uma forma diferenciada dos demais, o que torna a obra ousada do ponto de vista formal. A obra foi contemplada via Lic Federal, por meio da Lei Rouanet, e tem o patrocínio das empresas Randon e Marcopolo.

CAIXA DE PESQUISA

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A gênese vã


                        Há cinco anos conheci uma mulher. Bem, “conhecer” talvez seja um exagero. Passamos a nos corresponder com a publicação de meu primeiro livro. Nunca a vi pessoalmente. Nem seu nome sei. Ela apenas assinava “T.”. O certo é que, durante essa troca, mostrou-me o vácuo que todo relacionamento possui, por mais completo que possa enganar. Por mais aculturados que sejam os envolvidos. Escrevia e sumia. Respondia com muito atraso. Ficou um ano sem dar notícias. Depois assaltou minha tela, ávida como nunca, leu alguns desses contos e escreveu a orelha do livro. Agora, são quase três anos sem saber dela. Estou preocupado. Dizia-se rasa, pueril, mas seus e-mails a desmentiam. Como Sócrates afirmando que nada sabia, mostrava-se profunda. Lembro Schopenhauer: “O pensamento da maioria dos homens, quando conversam, parece cortado tão rente quanto um gramado, de modo que não é possível encontrar nenhum fio mais longo”. Com ela, era diferente. Então a ideia dessa obra. Este é um livro oco: o conteúdo dele está em ti, ou nem. Aqui vão contos vãos, que correspondem ao vazio das relações modernas; a natureza fugaz de amores que poderiam ter sido e não foram. Escritos que deslindam a banalidade de nossos sentimentos, nossa covardia em assumi-los e a inevitável conquista da infelicidade. Praticamente todos os textos são baseados em histórias que ouvi, vivi ou sonhei com/sem ela. Apenas acrescentei imaginação, mudando nomes que cabem alterar por bom gosto e ocultar por compaixão. Mas não há aqui condenação, porque não existe culpa. Não há um manual, nem significado para além do que está escrito. A cada página vemos sonhos que não se cumprem, felicidades provisórias, expectativas tão humanas quanto impossíveis. Até porque os amores que prosperam são bons para a vida, não para as letras. Só o amor não realizado pode ser romântico. O que seria da literatura sem Romeu e Julieta, Tristão e Isolda e outros? Como aconteceu antes, espero que esta publicação traga “T.” de volta. Quem sabe possamos nos conhecer de verdade. Ou não. O certo é que continuo preocupado.

                                                                                                                                                 O Autor


                 

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